Bola fora: a última Libertadores com decisão em dois jogos


Grêmio, Santos, Palmeiras, Corinthians, Cruzeiro, Vasco e Flamengo. São esses os últimos brasileiros que poderão decidir a Copa Libertadores em seu modelo histórico e tradicional, ou seja, em dois jogos, ida e volta, um em sua casa e outro na casa do adversário. Em 2019, acaba essa história, em mais uma decisão da Conmebol que joga por terra a tradição e o bom senso. 

A Libertadores tem problemas crônicos, como a condição bisonha de alguns gramados, a falta de segurança e o desprezo por punições mais severas que poderiam dar mais credibilidade à competição. Para ficar em apenas dois casos, a morte do garoto boliviano no jogo do Corinthians e a agressão aos jogadores do River em La Bombonera foram tratadas de maneira muito superficial e com punições brandas que só incentivam futuros desastres.

Grêmio festeja título em 2017 após dois jogos (pela penúltima vez na história da Libertadores) - Foto: Lucas Uebel/ Grêmio


Mas, ao invés de atacar esses problemas, por exemplo, a Conmebol opta pela decisão de promover uma final em campo neutro, em jogo único, deixando de lado toda a tradição e a festa das torcidas locais. Torcidas locais que, de cara, serão as mais prejudicadas nessa história. Estamos na América do Sul, não é simples para qualquer torcedor, aquele que lotaria o estádio (ou arena, se preferir) na final, viajar continente afora mesmo que fosse em um final de semana.

Passagens caras, logísticas complicadas, conexões, ingressos caros e o fato de não existir um clube continental que faça o estádio ficar lotado por outros torcedores em qualquer cidade. Imaginem a decisão que envolveu Atlético Nacional e Del Valle, em 2016, ser jogada em Porto Alegre, por exemplo? Os torcedores das cidades dos clubes teriam como viajar? Viajariam? Ou teriam outras prioridades, como a média dos aficionados sul-americanos?

O outro lado
Claro que a final será disputada em uma arena moderna, em uma cidade com um acesso em tese mais tranquilo. Ou seja, grandes chances dessa primeira final ser disputada no Brasil, com seus estádios recém-construídos ou reformados para a Copa do Mundo. Vai ter mais dinheiro para os finalistas? Vai, sim. 

Vai ser um grande evento? Provavelmente, será. Se a Conmebol se inspirar nas finais da Champions League, poderá fazer uma grande festa, com feiras, exposições, presença de grandes ídolos continentais, etc. Vai incentivar o turismo na cidade da decisão, vai atrair mais grana dos patrocinadores e também vai valorizar o torcedor de um dos finalistas que eventualmente more na cidade da decisão. 

Ok, isso é interessante, moderno, mas não traz a energia de uma final na casa do seu time. Aliás, não custa lembrar que, também com viés comercial, os ingressos serão fatiados. Ou você imagina que serão 50% para cada torcida? Serão 25% para o patrocinador X, 15% para o Y, e por aí vai. E todos torcendo para conseguir não só sobrar um ingresso para ser adquirido como rezando para que seja possível comprar sem maiores problemas tecnológicos - não se assuste se tiver uma fila na sua cidade para comprar seu ingresso físico (os poucos disponíveis). Bola fora. 

Chances dos brasileiros em 2018
Dos sete brasileiros que restaram na competição (a Chapecoense foi eliminada na fase preliminar), seis estreiam nesta semana (o Vasco estreia dia 13) e, como de praxe, vários podem se considerar candidatos ao título. A começar pelo atual campeão, o Grêmio, que no Grupo 1 vai pegar Cerro Porteño (PAR), Defensor (URU) e Monagas (VEN). Esse passa e segue firme na busca pelo tetra. A suposta tranquilidade do Grêmio, porém, é uma exceção em comparação aos demais brasileiros.

O Flamengo não terá vida fácil no grupo 4, com River Plate (ARG), Emelec (ECU) e Santa Fé (COL), ainda mais que jogará no início sem torcida, como punição pela baderna na final da Sul-Americana no Rio. Acredito que se classifique e pode ganhar corpo ao longo da competição. Não custa lembrar que já se atrapalhou em outras primeiras fases com grupos mais tranquilos.

O Cruzeiro, que tem a seu favor um bom elenco e um técnico com bom tempo de casa, é um dos favoritos ao título. Também não está em grupo simples, o 5, com Racing (ARG) e Universidade de Chile (CHI), adversários tradicionais, além do Vasco, que, pelo o que mostrou na fase preliminar, quando praticamente entregou uma classificação garantida, vai ter que suar muito para se garantir. 

No grupo 6, o Santos tem pela frente dois adversários tradicionais, Estudiantes (ARG) e Nacional (URU), além do franco atirador Garcilaso, do Peru. É uma equipe em formação sob o comando de Jair Ventura e pode ficar de fora se não vencer os outros dois concorrentes à vaga, que não são fáceis de serem batidos mesmo em uma fase ruim.

Atual campeão brasileiro, o Corinthians está no grupo 7 e encara o Independiente (ARG), atual campeão da Sul-Americana e osso duro de roer. Os dois são os favoritos da chave, mas podem ganhar a concorrência do Millonarios (COL), campeão colombiano e que corre por fora, podendo surpreender. O Deportivo Lara (VEN), em tese, é o saco de pancadas do grupo.

Fechando a análise sobre os brasileiros, o Palmeiras, badalado e reforçado, mas que vai encarar no grupo 8 o Boca Juniors (ARG) e o perigoso Junior de Barranquilla (COL), recheado de jogadores experientes. É favorito, mas não pode vacilar. Tem jogos difíceis fora de casa e adversários tradicionais pela frente. O azarão do grupo é o Alianza (PER).

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